Estranho ver a reação da "brava gente brasileira" com a execução de Marco Archer, ocorrida hoje na Indonésia.
Gente que defende pena de morte no Brasil para todo e qualquer crime hediondo (e mesmo os não-hediondos, como a nossa decantada corrupção) se divide entre os que apontam a Indonésia como exemplo e os que não sabem o que dizer quando veem um compatriota seu sendo enviado à morte "por tão pouco".
O mundo civilizado é contra a pena de morte, e não é por menos: não há como reverter tal punição, e nenhum pagamento em pecúnia traz de volta a vida de alguém. Nosso país, nesse contexto, age muito bem, ao endossar os tratados internacionais que regem o assunto, e que condenam essa forma de sentença.
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(Aliás, para os desavisados: tratado internacional aprovado pelo Congresso equivale à botar o texto na Constituição, o que significa que dificilmente a pena de morte entra no nosso ordenamento jurídico).
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Dito isso, está todo mundo cumprindo seu papel: o presidente indonésio não foi eleito para ser o queridinho do mundo, mas para satisfazer um país que acha que "traficante bom é traficante morto". O governo brasileiro, por sua vez, age corretamente, ao defender seus cidadãos e endossar a imagem de país defensor dos Direitos Humanos lá fora - embora, aqui dentro, a sociedade insista em repetir o mantra dos "direitos humanos são para humanos direitos".
Claro ... até a hora em que um dos seus aparece na linha de tiro do carrasco.
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Marco Archer tinha cara e jeito do "bom carioca", pelos depoimentos colhidos na imprensa. Suponho que achasse que sua esperteza o salvaria, como várias vezes acontece a quem comete o mesmo delito várias vezes com sucesso.
Cometeu, entretanto, um erro crucial: foi cometer seus crimes em um país que por vários motivos, inclusive históricos (a Indonésia sofreu muito com o tráfico na Guerra do Ópio) trata com extrema dureza o traficante de drogas - a tal ponto que é preferível ser terrorista que agir como "mula".
Moído pela prisão, tornou-se um morto vivo, que espantava aqueles que o conheceram anteriormente. Poderia ter sido solto - mas esbarrou em um governo que não quis ceder; e que, na sua intransigência, foi muito mais indigno, diante do mundo civilizado, que o governo brasileiro.
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Quando comparo o tratamento dado a Marco Archer ao que o Brasil prestou a gente como Cesare Battisti e Ronald Biggs, confesso que sinto um pouco de orgulho de nosso ordenamento. Mesmo tendo cometido crimes graves em seus países de origem, preferimos ser clementes, atender aos apelos humanistas e evitar que fossem condenados de forma injusta, seja por ter fixado uma vida aqui, ou porque havia medo do tratamento a ser dispensado lá fora.
Criminosos como eles não eram dignos, diante da sociedade, de toda essa proteção. Mas a receberam.
Mostrando que aqui, apesar de nossa "brava gente brasileiros", há uma esperança de que sejamos civilizados de fato.
Assim como somos de direito.
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Aos navegantes: algumas vezes escrevo textos opinativos com links para diferentes matérias, sobre assuntos do momento, com dados que coleto aqui e ali. Esse é um deles.
"Enjoy it!". Sem moderação.
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