Uma das primeiras regras ao se analisar uma música é: se o título faz referência a um texto bíblico, abra a Bíblia naquele trecho e compare a letra ao texto. Já vamos adiantar aqui que no caso da composição João Manô, é extremamente fiel à Palavra.
Não é a primeira vez que o Salmo 139 inspira uma canção. Talvez a mais famosa seja “Sonda-me” da Aline Barros. A música dela lida mais com o começo e o final do Salmo. Já a do Manô lida mais especificamente com o miolo, mais ou menos dos versículos 3-9.
Vamos à letra.
Para onde me ausentarei do teu espírito
Ou da tua face enfim senhor bendito
Se subir ao céus lá tu estás
Se fizer da minha cama o mais profundo abismo
Lá também estás, lá também estás
A primeira estrofe é quase uma transcrição dos versículos 8 e 9. Não há sequer o que comentar, uma vez que é tão fiel ao texto bíblico.
Me puseste em tuas mãos, tal ciência é para mim
Maravilhosa, maravilhosa
E não há nada aqui que me arranque das tuas mãos
Maravilhosas, maravilhosas
Aqui, no refrão, temos um eco dos versículos 5 e 6 do salmista. Novamente, irretocável.
Adiante ou atrás tu me cercando estas
Conheces cada passo onde firmo os meus pés
Se distante me detenho nos confins dos mares
Se me perco na mais densa noite
Lá também estás, lá também estás
Na segunda estrofe, o autor já parte para uma poesia própria, mas ainda assim mantendo a linha das Escrituras fielmente.
Perante um exercício de praticamente musicar um texto bíblico, não há o que comentar. A música prega o Salmo e canta as Escrituras.
Para além da letra, é uma canção muito agradável de se ouvir e cantar. Ela segue uma influência de blues presente em algumas canções do Manô. Seu compasso em três por quatro parece uma valsa que embala a sua mensagem de contemplação da maravilha que é ser criado e segurado por Deus. E o refrão expressa bem esse encantamento, de se maravilhar com a verdade de um Deus que cuida de nós, de perto. E pensando justamente nesse cuidado, quero compartilhar a história por trás da música, pois de fato traz um testemunho especial.
Para quem esteve em uma das apresentações da turnê “Viver é juntar” do João em parceria com o Marco Telles, você já deve ter ouvido essa história.
Esta música nasceu de um momento de luto intenso pelo qual a família de Marco passava: a perda de uma gestação já avançada. Aliás, para quem acompanha o trabalho do Marco, você pode perceber uma outra referência a este caso na música “Lá(r)”.
Na introdução que ele fez antes de tocar “Salmo 139”, Marco relatou que durante a época da perda, o João estava passando uma temporada na casa deles. E numa tarde de tristeza, João pegou seu violão e começou a dedilhar e cantarolar aquela que se tornaria a música predileta do Marco.
Sabendo dessa história, não pude deixar de lembrar dessa música justamente num momento de luto próprio, quando minha esposa perdeu o pai repentinamente.
Saber que Deus está conosco em todo e qualquer lugar é um acalento e tanto, seja na mais intensa alegria ou na mais profunda dor. E ser lembrado disso é algo que precisamos fazer constantemente.
Caso já não conheça “Salmo 139”, recomendo fortemente que ouça e a inclua no repertório da sua igreja. Ela está disponível em duas versões: uma de estúdio do próprio João e outra numa gravação acústica em parceria com o Marco, num trabalho inspirado na turnê que fizeram juntos.
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